Tuesday, January 10, 2006

Cristãos-Novos e Judeus em Pernambuco

Perseguidos pela Inquisição, os judeus, disfarçados em cristãos-novos, tentavam estabelecer-se no Brasil onde, em algumas partes, detinham 14% da população economicamente ativa. Quando da Dominação Holandesa (1630-1654), a comunidade do Recife veio a ser conhecida internacionalmente, sendo o seu passado objeto do interesse dos estudiosos dos nossos dias.


Cristãos-novos e judeus

A importância dos cristãos-novos e judeus na formação do Brasil colonial é estudada, de forma pioneira, pelo Prof. José Antônio Gonsalves de Mello, a partir da publicação de Tempo dos Flamengos - Influenciada ocupação holandesa na vida e na cultura do Norte do Brasil (1947) e de forma mais pormenorizada em Gente da Nação - Cristãos-novos e judeus em Pernambuco 1642-1654.

Quando em 1492 os Reis Católicos de Espanha, Isabel de Castela e Fernando de Aragão, vieram a expulsar os judeus sefardins do seu território, parte das famílias transferiu-se para Portugal. A paz durou pouco, pois já em 1497, D. Manuel, Rei de Portugal, obrigou o batismo cristão de todos os judeus, criando assim a figura do cristão-novo, determinando a expulsão daqueles que não viessem a adotar a religião católica romana. Assim, segregados em determinadas áreas urbanas e obrigados a adotar uma nova religião, os judeus permaneceram em terras do Portugal continental e em terras de além-mar, alguns praticando às escondidas rituais da Lei Mosaica, até 1536, quando da implantação do Tribunal do Santo Ofício da Inquisição.

Temendo o poder da Inquisição, responsável por milhares de vítimas quando de sua atuação na Espanha, a gente da nação, como também eram chamados os judeus, iniciou a sua dispersão em busca de outras terras. Em 1537, Carlos V autorizou a instalação de alguns deles em Antuérpia; em 1550, Henrique V, de França, permite o estabelecimento de homens de negócios e "outros portugueses cristãos-novos" [sic] em cidades francesas, dando assim origem aos grupos conversos de Bordéus, Baiona, Toulouse, Nantes, Ruão; que só viriam a ser reconhecidos como membros da comunidade judaica no séc. XVIII. Na década de 1590, iniciou-se a migração da França para Hamburgo e Amsterdã, cidades onde vieram a se fixar. Outros, porém, movidos pela aventura e pela possibilidade de enriquecimento fácil, vieram tentar a sorte no Brasil, onde chegaram a integrar uma considerável parte da população, estimada em 14% na capitania de Pernambuco.

Em Pernambuco, aprimeira presença documentada de cristãos-novos, com animus de fixar permanência, data de 1542 quando da doação das terras a Diogo Fernandes e Pedro Álvares Madeira, nas quais pretendiam erguer o Engenho Camarajibe. O primeiro, originário de Viana do Castelo, era marido de Branca Dias, que, nesta época, respondia processo por práticas judaizantes perante o Tribunal do Santo Ofício de Lisboa, só se transferindo para o Brasil por volta de 1551; o segundo, talvez oriundo da Ilha da Madeira, era especialista no fabrico de açúcares.

Em 1555, um ataque dos índios destruiu as suas plantações, o que motivou carta de Jerônimo de Albuquerque, cunhado do primeiro donatário então no governo da capitania, ao Rei de Portugal, pedindo auxílio para Diogo Fernandes, "gente pobre de Viana", então com seis ou sete filhas e dois filhos, que, com sua mulher Branca Dias, viriam a ser acusados de práticas judaizantes anos mais tarde.

Além desses, outros cristãos-novos tornaram-se senhores de engenho em Pernambuco, permanecendo também como mercadores, atividade peculiar dos judeus por todo o mundo. Outros, porém, se transformaram em rendeiros na cobrança dos dízimos e faziam empréstimos, sendo denunciados como onzeneiros, isto é, agiotas, como o James Lopes da Costa, João Nunes Correia e Paulo de Pina1 . Grande parte deles dedicava-se ao comércio de exportação de açúcares, indústria que se encontrava em franco desenvolvimento na capitania. Alguns chegavam muito jovens e, com a exportação desse produto, se transformavam em representantes das grandes famílias de capitalistas da época, como João da Paz, sobrinho de Miguel Dias Santiago, e Duarte Ximenes, ligado por laços de parentesco aos Ximenes de Aragão, grandes comerciantes de Antuérpia.

Um deles, James [Jaime] Lopes da Costa, o mesmo que aparece em 1591 como onzeneiro2, era senhor do Engenho da Várzea, tendo-se transferido para Lisboa, residência de sua mulher e filhos, e de lá para Amsterdã, onde se encontrava em 1598. Nesta cidade, conhecida como a Jerusalém do Ocidente, declarou-se judeu passando a usar o nome de Jacob Tirado, e aí fundou a primeira sinagoga portuguesa daquele grande centro, chamada Bet Yahacob (Casa de Jacob). Era natural do Porto (Portugal), tendo nascido em 1544, transformando-se, assim, num dos mais ilustres membros da comunidade de Amsterdã. Nesta cidade foi alvo de significativa homenagem do rabino alemão Uri Phoebus Halevi, que dedicou-lhe o seu livro ali editado em 1612.

Foi ainda James Lopes da Costa que, em 1615, constituiu um grupo de quinze judeus portugueses, a SantaCompanhia de Dotar Órfãs e Donzelas, mais conhecida entre os sefardins pela sigla Dotar, no qual foram acrescidos os nomes de quatro judeus ausentes, dois dos quais residentes em Pernambuco, João Luís Henriques e Francisco Gomes Pina.

No final do século XVI, quando da Primeira Visitação do Santo Ofício às partes do Brasil (1593-1595), já era considerável o número de cristãos-novos em Pernambuco. Numa amostragem com base nos depoimentos, constantes das denunciações e confissões, pode-se estimar em 14% da população desta capitania

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